As linhas de mobiliário e objetos decorativos da Louis Vuitton foram expostas no Fuorisalone 2023
Se Milão disputa com Paris, Londres e Nova Iorque um lugar de destaque como capital da moda, não há nenhuma dúvida de que a cidade italiana é a capital mundial do design. E é exatamente por isso que durante a primaveril Semana do Design, grandes e pequenas marcas de moda têm se infiltrado, não para trazer mais e mais roupas, mas sim para dar a solução completa ao estilo de nossa vida. Agora temos casa, comida e roupa lavada, com o logo e o estilo de sua preferência. O que é a Semana do Design em Milão?
Em termos culturais, representa a aglomeração e curiosidade. Durante esta semana de abril, as principais marcas de design e arquitetura do mundo, além de designers, arquitetos, decoradores, empreendedores e criativos de todos os tipos estão na cidade. Diferentes áreas são ocupadas por essas empresas que alugam temporariamente os espaços e os utilizam como showrooms, mas não de uma forma tradicional. Na maioria das vezes, falamos de instalações conceituais e artísticos, que integram a arquitetura histórica milanesa com as mais inusitadas formas do design contemporâneo.
É bem comum ver de perto o lançamento de produtos nessa semana (de papéis de parede a torneiras, passando por mobiliário ou automóveis), inovações tecnológicas relacionadas à casa e a introdução de novas ideias e valores, como a sustentabilidade, o artesanato, a estética limpa. Dada a alta intensidade de informação privilegiada sobre o “planejamento do futuro” pelos designers, a Semana do Design atrai mais de 300 mil visitantes especialistas. Como surgiu esse evento? Bom, a Semana do Design, que tecnicamente se chama Fuorisalone, nada mais é do que a legitimação de um evento que orbita ao redor do tradicionalíssimo Salão do Móvel. O Salone del Mobile é a maior feira do setor do mundo e que começou a acontecer em 1961 para promover a indústria de móveis italiana. Não há uma data precisa para o surgimento do Fuorisalone, pois a cidade sempre esteve integrada à feira, oferecendo “naturalmente” eventos paralelos. Porém, foi em 1991 que esse nome, que quer dizer “fora do salão do móvel”, foi oficializado. Já são mais de três décadas então que o Fuorisalone consolidou-se como um ponto de encontro para as indústrias, designers e artistas se encontrassem e uma janela para o mundo.
A moda e o design de interiores
Não é de hoje que moda e design de interiores caminham juntos. Antes da moda ter centenas de tendências e estilos simultâneos difíceis de conhecer e seguir, os elementos visuais e práticos do mobiliário e das roupas convergiam. Se olharmos pinturas, esculturas e registros fotográficos da Antiguidade ao século 20, veremos que os traços das roupas e da arquitetura e artes visuais são coerentes. Mas depois da década de 1980, a decoração das casas se tornou cada vez mais personalizada e as regras de gosto e as normas compositivas se diluíram um pouco. O mobiliário barato se difundiu e ficou mais fácil adequar a decoração de interiores ao nosso estilo e momento de vida e a casa pôde expressar muito da personalidade de seu morador, exatamente como acontece com a moda. Apesar dessa combinação perfeita, as marcas de moda faziam roupas e acessórios, não móveis, luminárias, tapetes etc. Mesmo que saibamos que na história do design existam muitos criadores ecléticos, que criaram cadeiras, chapéus e casacos, essas atividades foram muito mais experimentais do que um negócio propriamente dito. E é essa a grande novidade que o Fuorisalone traz: a “brand extension” das marcas de moda se consolida.
Das marcas de moda aos móveis e objetos decorativos
O que vemos esta semana no Fuorisalone é bem mais do que uma cadeira assinada por um designer de moda. As marcas, em suas linhas de móveis e de objetos de decoração, traduzem seus estilos e identidade, humanizando e personalizando a casa assim como fazemos com nosso próprio corpo.
E como isso tem acontecido? O mais interessante é ver que em cada marca a estratégia é diferente, e a dinâmica da indústria moda se adapta a esse segmento a partir do conceito da empresa. Falar de móveis da Fendi não é a mesma coisa que da Dolce & Gabbana, por exemplo, e não estamos falando de questões de estilo, mas sim de projeto. Por isso, após visitar todas as casas de moda com linhas home + mobiliário + decoração, destacamos três diferentes formas de conduzir essas linhas adicionais que surgem depois que a marca se consolidou como uma marca de moda: A identidade está na superfície Algumas marcas de moda, apesar de pertencerem a um mercado de consumo sofisticado que indistintamente chamamos de luxo, elas não possuem a potência necessária para suportar o investimento em peças caras que exigem muito investimento, como camas, sofás e por aí vai. Por isso, seu grande foco de linha casa é exatamente o de objetos pequenos, que pode se concentrar em pratos, copos, toalhas de mesa etc., bem como em almofadas, lençóis ou toalhas.
Nesse tipo de caso, o que ocorre na maioria das vezes é que o estilo é traduzido das roupas aos objetos por sua visualidade. Cores, formas, elementos etc. são transportados de um lugar ao outro e, ainda que o projeto desses objetos possa ter algum diferencial (um prato em um formato particular, por exemplo), a identidade da marca se concentra na superfície e em pequenos itens. É o caso, por exemplo, da La Double J ou da Luisa Beccaria.
La Double J (cores fortes) e Luisa Beccaria (tons pastel)
A identidade está na seleção de objetos e organização do espaço
Uma segunda versão da extensão de marcas, é mais próxima de algo como “esses objetos seriam selecionados pelo designer de moda X.” Embora em alguns casos possa também haver uma identidade decorativa (estampas da marca se repetem nos tecidos dos sofás), o lifestyle é mais explorado: a decoração é como uma forma de viver, tem uma dimensão bem prática e não só visual.
Dois exemplos marcaram o Fuorisalone quanto a isso: a linha de Karl Lagerfeld e alguns móveis de Roberto Cavalli, sendo que, no caso do último, vemos que os objetos tiveram as estampas adicionadas.
No caso de Lagerfeld, o apartamento inteiro representa como o designer alemão viveria, as cores que ele escolheria, como ele distribuiria os espaços. Já em Roberto Cavalli, não são muitos os objetos disponíveis, mas, para dar um exemplo, uma poltrona ou sofá “pra gente se largar” ou uma espreguiçadeira, são a cara absoluta da marca. Em outra sublinha, uma poltroninha francesa, absolutamente barroca, seria uma daquelas cadeiras decorativas que uma cliente Roberto Cavalli certamente teria em sua casa.
Cadeira e sofás da Roberto Cavalli
Karl Lagerfeld
A identidade está no design de produtos
As gigantes, como Armani, Louis Vuitton, Fendi e Dolce & Gabbana, por exemplo, realmente possuem um desenvolvimento de produtos que expressa nos móveis e objetos os seus elementos de estilo mais marcantes. A seleção da matéria prima, as soluções de projeto, a forma dos objetos e mesmo sua escolha, são extremamente alinhados com a identidade das marcas e não com uma coleção em particular. Trata-se de uma “overdose” de estilo baseada no logo da marca. Assim como acontece com as roupas, é exagero e ostentação, ainda que possamos considerar sóbrio, elegante e chique, dependendo do gosto de cada um.
Dolce & Gabbana
Fendi
Louis Vuitton
Giorgio Armani
Quer casa, comida e roupa lavada?
As marcas de moda, de certa forma, são nichadas e acabam sendo bastante representativas desses “eus”, ou seja, podemos chegar a dizer que a identidade das marcas reflete o que seus consumidores são ou desejam ser de uma forma pessoal. Por isso, estender essa “pessoalidade” à decoração, significaria entender que a o ambiente da casa, também é cada vez menos “neutro” e mais identitário.
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