Embora a história dos desfiles de moda nos leve à exibição do luxo na Inglaterra do século 19, foi a popularização da moda a partir dos anos 1960 que deu a esse tipo de evento um destaque político, econômico e social que chega a todos os lugares do mundo nos quais a moda vem adquirindo importância. Um dos sonhos dos jovens designers é “desfilar suas criações” e, não por acaso, grande parte das faculdades e cursos de moda em todo o mundo, têm os desfiles como um ponto final do percurso de formação. O desfile, então, é um fim, mas também é um começo: por isso traz tantas expectativas.
Nos últimos anos os desfiles se tornaram altamente populares e conhecidos de uma grande massa de consumidores, deixando de ser um evento limitado aos profissionais da moda. Talvez, o impulsionador desse movimento tenha sido o italiano Gianni Versace – pois ele transformou suas modelos em celebridades -, mas o fato é que são as redes sociais que, atraídas pelas imagens geradas pelos desfiles, encontram “conteúdo” para se retroalimentar. No fim, como pudemos ver no desfile da Coperni na Semana de Moda de Paris, centenas de milhares de pessoas se encantaram com o vestido polimirezado com o uso de um spray durante a própria apresentação, e essa cena foi infinitamente repostada. É incrível notar como tantos “críticos de moda” deram o veredito final de que este teria sido o momento mais mágico de todos (em comparação com os outros desfiles) muito provavelmente em função do “impacto” que a própria imagem causa em qualquer tipo de público, e não só o tradicionalmente interessado em moda. Pergunte aos seus colegas: você já conhecia a Coperni?
Podemos dizer então que vivemos um momento onde o objetivo dos desfiles de moda esta mudando, ou pelo menos, sendo ampliado. Ao invés de apresentar os produtos de uma “forma ideal” (leia-se, belas modelos) para provocar o imaginário dos consumidores e clientes, a intenção é atrair mídia para a divulgação da marca e, quanto mais a “imagem da marca” for conhecida, mais consumidores e valor ela terá. Assim, os desfiles conjugam o produto com a teatralização, como nunca tinha acontecido.
Não que desfiles teatrais sejam novidade. Aliás, estamos no centenário do desfile de Lady Duff Gordon que em 1922 apresentou seu desfile “Gowns of Emotion” que tinha cenário, coreografia, iluminação e música. Nessa mesma ocasião também foram introduzidas a “primeira fila” e a participação por convite, fazendo do desfile uma exclusividade que tem muito valor social, afinal, também dá prestígio ao seleto público.
Por isso mesmo é que os desfiles acabaram se massificando e quase todos os dias existem desfiles acontecendo pelo mundo afora. Nas escolas de moda, nos shopping centers, nos eventos das cidades, nas associações, nos clubes, nas lojas ou marcas ... temos um milhão e meio de variedades de eventos que usam a fórmula modelo + passarela para tentar a promoção de marcas e novos profissionais de moda. Os grandes nomes e marcas, ao contrário disso, investem milhares de centenas de dólares para ir para lugares inusitados – como as muralhas da China -, para trazer para as passarelas celebridades que atraem a mídia – como Madonna -, ou investindo no happening, isto é, acontecimentos que acontecem uma vez só, como é o caso do desfile da Coperni ou seu predecessor, Alexander McQueen em 1998.
E como ficam as tendências "ditadas" pelos desfiles?
A moda é muito complexa para ser transformada em cores e produtos, assim como querem os blogs do Look do Dia. Essa era uma realidade dos anos 50, quando as passarelas eram exclusivas dos “grandes costureiros” e seus modelos eram reproduzidos como regras de bom gosto e elegância. Quem ainda seguir essa “escola”, realmente só poderá trabalhar para o fast-fashion, que na prática significa a inexistência de qualquer segmentação de público, mas onde tudo é colocado no mercado com a lógica do preço, do imediato e do consumo inconsciente. Mas se não é essa sua intenção, os desfiles de moda merecem uma leitura atenta e delicada, com o objetivo de explorar as pesquisas sociais e técnicas que as grandes marcas de moda conseguem fazer e, por isso, nos proporcionam informação de moda de qualidade. Além disso, a própria espetacularização dos desfiles é um elemento importante do marketing de moda, que nos ajuda a entender o que realmente está provocando a emoção das pessoas neste momento. A “incopiabilidade” ou “irreprodutibilidade” apresentada pela Coperni, é a melhor mensagem que podemos tirar desse desfile.
Lendo e entendendo desfiles de moda: um programa exclusivo da Fashion For Future
Os desfiles de moda foram usados nos últimos 30 anos como fonte de inspiração para o mercado de moda popular. O sistema que se solidificou e até mesmo foi ensinado em muitas escolas de moda, foi aquele que entendia que os desfiles traziam regras, verdades absolutas e produtos que se tornariam tendência. Esse discurso ultrapassado ainda hoje é utilizado para vender facilidades no campo das pesquisas das tendências. Mas como vimos, os desfiles são bem mais que isso e, portanto, trabalhamos argumentos que promovem no profissional de moda um olhar que “atravessa os desfiles”, isto é, relaciona o evento com a marca, interpreta sua história e então destaca os elementos que realmente são relevantes enquanto tendência sazonal. É um jeito inovador de olhar os desfiles e usá-los como conhecimento para se atingir o sucesso comercial de coleções e marcas. Quer saber mais? Clique aqui que te trazemos todos os detalhes.
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