Por Ana Beatriz Hoffert
Há exatos dez anos, em abril de 2013, 1129 trabalhadores da indústria da moda morreram enquanto costuravam roupas, e mais de 2500 ficaram feridos. O edifício Rana Plaza, em Bangladesh, hospedava quatro confecções que trabalhavam para marcas globais, e desabou por conta da má condição na qual se encontrava, com os funcionários em situações análogas à escravidão. A tragédia que abalou o mundo da moda e evidenciou um grande problema sistêmico, também abriu um leque de debates sobre a transparência na cadeia produtiva, e fez com que a sustentabilidade fosse mais amplamente discutida.
Uma das indústrias mais poluentes do mundo e também uma das maiores geradoras de empregos, esconde um lado ainda mais problemático, que envolve a falta de condições justas a todos aqueles que participam desse processo e o incentivo ao consumo em massa. Todos esses problemas que estão em alta nas pautas sobre a discussão do modelo fast-fashion e consumo consciente, foram impulsionados majoritariamente pelo movimento global Fashion Revolution, que foi iniciado após a revolta diante do desastre no país sul asiático e que visa impulsionar uma moda limpa, segura, justa, transparente e responsável. A organização fundada pela britânica Carry Somers e a italiana Orsola de Castro, alcança mais de cem países ao redor do globo e articula uma série de problemáticas aos consumidores: quem fez as minhas roupas?
Divulgar as hashtags #QuemFezMinhasRoupas, #DeQueSãoFeitasMinhasRoupas e #ACorDeQuemFezMinhasRoupas está entre as principais iniciativas da sede brasileira. Desde 2014, a Semana Fashion Revolution Brasil acontece no mês de abril em memória aos afetados pela tragédia, e proporciona uma semana intensa de lives e workshops que ampliam esses questionamentos. Em 2023, de 22 a 29 de abril, os debates terão enfoque no relacionamento humano com a natureza, e como eles são interdependentes. Desse modo, é preciso se perguntar como colaborar com o movimento e ser um agente revolucionário. Além de participar dos encontros e divulgar o projeto nas redes sociais, devemos indagar as marcas e valorizar os trabalhadores. No site da Fashion Revolution Brasil temos alguns modelos.
Outras iniciativas, por exemplo, incluem correr atrás de informação. Faça o exercício de ler a etiqueta de suas roupas e saber de onde vêm, qual é o material, e depois questione, entre em contato com as marcas. Os trabalhadores recebem um pagamento justo? Quais são suas etnias? Existe o monitoramento da cadeia produtiva? O consumidor tem o direito e o dever de saber. É hora de olhar a moda como um movimento político, com significados e princípios.
Eventos promovidos pela Fashion for Future especialmente para a Semana Fashion Revolution. Saiba mais em: https://www.fashion-for-future.it/talks
Em entrevista exclusiva à primeira edição da Unsatisfashion, a revista produzida pela Fashion For Future, Eloísa Artuso, diretora educacional do Fashion Revolution Brasil, diz que os problemas da indústria “são sistêmicos” e devem ser trabalhados “na raiz”. De acordo com a Global Fashion Agenda, fórum de discussão de moda, políticas públicas e agências reguladoras são as mais influentes em sustentabilidade dentro das empresas, e por isso, a importância da adesão ao movimento revolucionário.
Além disso, de acordo com a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção), no Brasil 75% da mão de obra da indústria é feminina, e no mundo isso chega a mais de 80%. O documentário “The True Cost”, extremamente essencial para aqueles que querem entender mais sobre esse sistema e como ele funciona: a maioria das trabalhadoras são mulheres de 18 a 24 anos, que recebem menos de 3 dólares por dia, ou seja, no máximo 90 dólares por mês, por uma quantia enorme de trabalho. Isso comprova que essa questão “fashion” também é um problema de cunho feminino e social, e devemos clamar por transparência e levantar cada vez mais essas questões.
Durante essa semana de reflexão e sede de mudança, pergunte a suas marcas favoritas #QuemFezMinhasRoupas e #DoQueSãoFeitasMinhasRoupas. Afinal, o vestuário faz parte diária de nossas vidas e esses questionamentos deveriam se tornar obrigatórios.
Confira a revista Unsatisfashion n.1 para entender mais sobre esse movimento, e ter acesso a entrevista exclusiva completa com a Eloísa Artuso.
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