Por Laura Fernandes
Até bem pouco tempo, falar sobre uma moda engajada com questões de sustentabilidade e ainda capaz de manter um conceito criativo e comercial parecia ser um sonho distante. Hoje, já vemos estabelecidas no Brasil diversas marcas que trazem essa proposta e alcançam públicos cada vez maiores. A mistura da sabedoria artesanal, da preocupação socioambiental e do olhar comercial fazem da moda autoral um tipo de negócio capaz de unir os valores do slow fashion com culturalidade e estreita ligação com o público.
Definir um nicho específico para essas marcas é, no entanto, uma tarefa difícil, visto que elas se identificam com esse título mais ao compartilhar valores e um ideal de moda com propósito e consciência, do que por características delimitadas de metodologia de trabalho, técnicas e ferramentas de produção. A moda autoral floresce então como uma resposta aos anseios em relação à sustentabilidade e à carência por uma linguagem de moda que seja local e contemporânea, podendo ser entendida como aquela em que o criador está ativamente envolvido em todas as fases da produção e mesmo da distribuição de seus produtos, cuidando para que haja coerência narrativa em todos os aspectos do negócio.
Apelo à identidade
Um fenômeno especialmente latino-americano, esta nova roupagem para os negócios de moda é cativante porque remonta ao clima dos ateliês de moda exclusiva, com o apelo das técnicas artesanais ou mesmo experimentais, criação de estampas e modelagens com ligação estreita à cultura e à história locais, que consideram o fazer manual e apelo à ancestralidade. Ao mesmo tempo, não são ignoradas as demandas do mercado: existe o cuidado em criar coleções menores, com rápido giro e preços competitivos, em que o designer ou estilista é protagonista no desenvolvimento das peças, adicionando a cada uma delas storytelling e personalidade. Assim, uma geração de criadores, preocupados com suas raízes e com o fazer mais sustentável, encontram voz em espaços que as fast fashion não podem oferecer.
Os consumidores, por sua vez, encontram na moda autoral produtos que geram identificação mais íntima e personalizada, com apelo estético e autoafirmação. Nesse sentido, essas marcas ganham mercado ao criar uma ligação estreita com os desejos dos clientes, além de manter um canal de comunicação mais próximo e fluído com eles. Não é incomum vermos estampas que remetem a letras de músicas típicas ou sucessos locais, iconografia com linguagem ligeiramente kitsch e reverente a um passado comum.
Presença local
Em Recife, a loja Mape, de iniciativa governamental, concentra cerca de 70 marcas de moda, entre vestuário, acessórios e calçados, que incorporam a identidade autoral. Para além disso, em diversos pontos da cidade e região surgem novas lojas colaborativas que agregam novas marcas, o que gera um relevante impacto econômico e oportunidade para expansão do mercado. E o mesmo movimento parece se repetir em todo o Brasil com feiras, formação de comunidades, pop up stores e lojas colaborativas.
Tal movimento alimenta não apenas a economia, como também testemunha de forma cabal como é possível unir práticas mais sustentáveis à cultura e ao artesanato locais - pedras cantadas há anos pelos melhores analistas de mercado e de tendências na moda. O que vemos, mesmo que em iniciativas pequenas e pulverizadas, é a afirmação de um movimento de marcas que já incorporam a consciência socioambiental em seus DNAs.
No livro Caminhos da Sustentabilidade na Moda falamos mais sobre esses novos negócios e analisamos o caso da Mape como um exemplo de união de diferentes atores sociais para o estabelecimento de uma moda mais consciente.
Para fazer parte de uma geração de profissionais de moda que reconhece a importância do artesanato na construção do imaginário coletivo e na identidade de marcas de sucesso, o curso Moda + Artesanato te ajuda a compreender como concretizar essa união de forma ética e inteligente.
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