Enquanto a indústria têxtil brasileira é centenária, pode-se dizer que a moda por aqui começou nos anos 1950, mas que popularizou-se somente na década de 1980 ao tornar-se um setor econômico de peso. Isso não quer dizer que antes não se produzissem roupas no Brasil, mas sim que a "aura" do produto, da marca e dos criadores todo o universo simbólico que atravessa o consumo de moda brasileira, são recentes.
Prova disso é a legitimação da formação em moda em território nacional. Enquanto as escolas têxteis eram muito poderosas na década de 1960 - cheias de alunos que viam na indústria têxtil um futuro profissional promissor -, somente no final dos anos1980 surge a primeira graduação em moda no Brasil, substituindo um percurso ainda tímido e restrito de cursos técnicos ou formações curtas proporcionadas por associações e empresas privadas. As trajetórias separadas e durante muito tempo divergentes das duas indústrias se potencializou na primeira década dos anos 2000: a expansão vertiginosa do ensino superior permitiu a criação de incontáveis cursos de moda com grande foco na criação enquanto a formação para a área têxtil ficou estagnada, limitando-se aos pólos produtivos.
Mas agora podemos dizer que o jogo virou novamente. Por que? Nossa hipótese é de que a partir do momento em que associações de classe, escolas têxteis, eventos da área e seus profissionais descobriram que grande parte dos têxteis têm a indústria da moda como destino, um diálogo muito interessante e cheio de possibilidades se estabeleceu. Além disso, é impossível não perceber que todo o sistema moda, da formação passando pela mídia e chegando até o setor produtivo e comércio, viu que uma das formas mais potentes de inovação é por meio dos materiais. Queremos adicionar, também, que a preocupação com a sustentabilidade aguçou o olhar para os têxteis e hoje vemos, cada vez mais, jovens designers 100% focados na criação reflexiva, pensada a partir da origem e do destino dos materiais têxteis.
Como sempre, moda é inspiração ou cíclica, como queiramos nomear esse eterno jogo de influências e revisões que todos os criadores estabelecem. Portanto, vemos que a paixão e admiração que designers como Iris Van Herpen e Issey Miyake (e praticamente todos os japoneses) despertam porque são capazes de fazer nascer dos tecidos produtos incríveis, pensando formas a partir de materiais. Esta é uma maneira simples de dizer que moda e têxteis são indissociáveis e que hoje, qualquer profissional do setor, deve dominar essa dinâmica se quiser inovar e avançar.
Além das possibilidades criativas, não podemos esquecer o fato de que a qualidade formal do produto, dependerá também das decisões sobre os materiais. Por isso, por mais que o sonho se volte aos looks conceituais e cheios de exploração estética, não há dúvida de que devemos partir do básico: o têxtil, como material predominante na moda, deve ser compreendido em sua potencialidade e limitações, por todos os profissionais da moda.
Para falar sobre desafios e possibilidades dessas indústrias - têxteis e moda - conversamos com Camilla Borelli, engenheira têxtil e doutora em engenharia. Ela nos falou sobre a importância dos tecidos para a indústria da moda, além de nos proporcionar de uma visão ampla dos materiais têxteis na moda, incluindo o papel dos têxteis na criação, a importância da visão sistêmica no setor e outros temas necessários.
Se você quiser aprender muito mais sobre esse assunto...
Talvez você não saiba, mas a Fashion For Future é a única plataforma de formação em moda de excelência que oferece dois cursos exclusivos sobre moda e tecnologia têxtil. O primeiro, Tecnologia Têxtil para Profissionais da Moda abrange todo o processo de produção, desde a matéria prima até o produto final, de forma a te mostrar como os materiais e processos influenciam o design de produtos e a moda de maneira geral. O outro, ministrado pela Dra. Camilla Borelli, é fundamental para todos os profissionais, pois seu foco é a Análise da Sustentabilidade na Moda.
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